Adeus a Diego Armando Maradona

No último sábado, eu havia acabado de instalar o painel na sala da minha casa, onde daqui alguns dias será o meu lugar favorito para assistir futebol. Além da televisão, o painel oferece espaço para decoração. Aqui em casa, a gente não é muito ligado a decoração moderna e o marido logo pegou os guardados no guarda-roupas. Dentro das caixas, vários personagens: Jason, Freddy Krueger e Chuck - vilões bem conhecidos em todo o mundo e inesquecíveis. Até que no meio de tantos bonecos de cera, uma lembrança recebida do cunhado quando foi até Buenos Aires - dos tempos que gente ainda podia viajar. Um camisa 10, um baixinho de 1,65 que com certeza foi um das caras que mais honrou esse número: Diego Maradona. Em tom sarcástico, o Juninho perguntou se poderia colocar o camisa 10 trajado com o uniforme da Argentina, ali ao lado dos vilões.

Pouco sabia que Maradona havia passado há pouco tempo por uma cirurgia, li de relance em um noticiário, mas sendo bem sincera não abri a reportagem. Passados quatro dias daquela conversa, no grupo de amigos a notícia: Maradona morreu. Não dava para acreditar. Maradona? E mesmo que esteja na capa de todos os jornais, eu ainda não acredito. Maradona de uma personalidade ímpar, uma figura sagaz, passava a sensação de um cara imortal.

Maradona foi artista em campo, gênio em cada jogada. Fora de campo, enfrentou problema sério com o vício e nunca escondeu: "Eu era, sou e serei um viciado em drogas”, declarou em 1996. Maradona em várias entrevistas falou sobre a dependência química e alertou sobre a doença, tão negligenciada e criminalizada. Para mim, o baixinho se tornou gigante todas as vezes que mostrou sua sensibilidade por trás das falhas. O garoto, que aos 18 anos chegou a seleção, não se enquadra em nenhuma descrição. De fato, muito contestado, afinal, depois de tantos dribles, parou nos antidopings que chegaram afastá-lo por um ano do mundo da bola.

Porém, para muitos idolatrado, chegou a ser considerado Deus! O cara que fez gol de todo jeito, inclusive de mão, não gostava de ser chamado assim, mas sempre mostrou acreditar em forças divinas. “Muitos dizem que fiz à mão. Eu digo que fiz isso com a cabeça e a mão de Deus”.

O argentino que vestiu a camisa do Brasil, não só em marketing acordando de um pesadelo, mas em 1990 quando foi fotografado logo depois da vitória de sua equipe sobre o Brasil, durante a Copa do Mundo. Cumprindo o protocolo oficial dos boleiros, o camisa 10 trocou a camisa com um jogador adversário e em seguida continuou sua comemoração com a amarelinha.

Nesse dia 25, dia também da morte de Fidel Castro, figura que Maradona idolatrava e fazia questão de dizer de que lado estava, os amantes do futebol perdem um dos maiores gênios de todos os tempos do futebol. Perdem os argentinos, os senhores (as) e os garotos (as). Perdemos todos que um dia vão sentar ali na minha sala do painel recém instalado para ver um jogo e não poderão assistir tudo que aquele baixinho já aprontou dentro de campo. Fora dele, eu sei, para muitos ainda vai ser considerado vilão. Vilão ou não, Maradona mais do que nunca vai continuar entre os personagens inesquecíveis e que fizeram história. E que história!